Este iate foi mandado construir pelo Rei D. Luis para substituir o Veloz que toda a gente reputava de inferior às outras embarcações de recreio então existentes. O rei confiou ao seu ajudante de ordens, o capitão-tenente Carlos Augusto de Sousa Folque Possolo o encargo de planear e dirigir a construção do iate, labor em que este foi auxiliado por Diogo Jorge Batalha. A construção foi confiada a Tomás António Gonçalves mestre carpinteiro do Arsenal da Marinha. Foi a mais nacional de todas pois desde o risco até às madeiras e materiais empregues tudo era português.

Palhabote Sírius
Construído no Telheiro das galeotas reais à Junqueira o Sírius foi lançado à água em 14 de Abril de 1877 na presença de suas Majestades.
O iate elegante e de muita estabilidade, tinha ao centro uma âncora com sofá em volta, aparadores nos cantos e espelhos às amuradas. A estibordo, à ré, situavam-se a camarinha da Raínha e o camarote da camareira. No bordo oposto encontrava-se o camarote do comandante. A vante, a estibordo, via-se o camarim do Rei e a bombordo o camarote do ajudante de campo. No alojamento de proa acomodavam-se o mestre e os sete tripulantes. Todo o casco submerso era de cobre.
Armava em caíque com duas velas bastardas, catita de bastardo e uma vela de proa. Depois das experiências de mar, em que fez 11 nós com vento fresco, foi oferecido à Rainha D. Maria Pia.
A primeira regata em que participou foi em 4 de Setembro de 1877 num percurso de 75 milhas determinado pelo Rei D. Luis. Por falta de vento teve de ser repetida em 11 de Setembro tendo o Sírius sido desclassificado por transgredir o regulamento. Venceu a regata de 15 de Agosto de 1878 promovida pela então Real Associação Naval de Lisboa ainda aparelhado em caíque. Em 1879, apesar de se terem realizado regatas, o Sírius não entrou porque se provara que tinha um andamento muito superior ao de todos os outros iates.

Palhabote Sírius atracado á ponte do antigo Arsenal
A sua fama galgou fronteiras e D. Luis inscreveu-o para participar nas regatas internacionais de Nice. Devido ao mau tempo chegou tarde e não pode tomar parte nas competições. De regresso a Portugal arribou a Marselha e aí correu contra o iate francês Eugenie vencendo-o num percurso de 8 milhas por 45 minutos. Por esse facto vários jornais franceses teceram-lhe os maiores elogios, chegando vários construtores navais a examinar com detalhe a sua construção.
Posteriormente largou de Gibraltar ao mesmo tempo de um iate inglês e chegou a Lisboa com um grande avanço o que o tornou ainda mais conhecido. Esta proeza chegou a Inglaterra e dois dos melhores iates ingleses, a escuna Cetonia e o iole Gestrude, resolveram vir até Lisboa e a 16 de Outubro de 1880 a Real Associação Naval organiza uma regata internacional com sete iates inscritos. Os ventos não foram favoráveis e chegou primeiro o Cetonia e o Gestrude seguido pelo Altair e o Sírius.
Depois desta data rareiam informações sobre o barco. Em 1887 armou em palhabote. Já neste século foi adaptado um pequeno motor de modo a facilitar as manobras de entrada no porto.

Sírius em Belém junto ao monumento das Descobertas
Em 17 de Setembro de 1912 foi entregue à Escola Naval para instrução dos aspirantes função que desempenhou pelo menos até 1931. Mais tarde passou para o Clube Náutico dos Aspirantes. Passou desde 1953 pela Brigada Naval até que em 1974 voltou para a posse da Marinha.

Pormenor da proa do Sírius
Após a última regata, e sabendo já que o novo destino do Sírius seria o museu, o então cadete João Carlos Agostinho Velez dedicou-lhe uma quadra (plagiando Camões):
SIRIUS, ditosa nau que te apartaste,
Desse reino por onde tanto navegaste,
Levas no pano gravada a saudade,
Levas no casco o peso da tua idade.
Encontra-se desde 1984 em exposição no Museu de Marinha em Lisboa.
Características:
Comprimento fora a fora: 22,50 m
Comprimento entre perpendiculares: 16 m
Boca: 3,75
Pontal: 3 m
Calado máximo: 2,85
Altura do mastro grande: 17 m
Altura do mastro do traquete: 15,85 m
Arqueação: 49 toneladas
Tripulação: 8